Depois de muitos países (ou lugares distantes, como é Malta), chegou a hora do jornalismo em quadrinhos ser levado a sério, no Brasil. Quem sabe, assim, mais gente tenha acesso a algo diferente do que o 'mais do mesmo'.
A Caros Amigos, que divide com a Piauí o posto de ser das melhores revistas do Brasil, acolheu uma proposta de jovens criativos e começou a publicar uma série em quadrinhos sobre a Bolívia em preto e branco (originalmente, a obra foi concebida em cores). Pra que você corra pra banca, primeiro, sugerimos a leitura do comunicado de imprensa, claro e objetivo. Na sequência, vamos ao lado sub-jetivo: o saldo do e-papo que mantive com 3 dos criadores. Sigam-me os bons!
1) O salar está café
A reportagem em quadrinhos “O salar está café” foi uma iniciativa dos jornalistas Natalia Viana e Alexandre Casatti após uma longa viagem pela Bolívia, em que cobriram as eleições presidenciais de dezembro de 2009. Além de escrever para sites e revistas (Opera Mundi, retratos do Brasil, Revista Forum) a dupla, acompanhada pelo fotógrafo Chris Von Ameln, elaborou um guia turístico sobre o país andino para a editora Abril.
Mesmo assim, faltava algo; durante o trajeto, algumas situações e cenas revelavam outros grandes problemas da Bolívia hoje em dia: uma conversa com um antigo morador do Salar de uyuni, uma frase de uma turista estrangeira, uma senhora vendendo frutas nas ruas de La Paz. E principalmente, o fato do Salar estar marrom, coisa que muitos moradores do país nunca tinham visto – efeito da estiagem causada pelo aquecimento global.
Mas seriam essas cenas e testemunhos material jornalístico? Acreditamos que sim, mas não no formato tradicional. Por isso decidimos aliar a intimidade e a liberdade dos quadrinhos com a informação e a apuração jornalística. Usamos trechos de entrevistas, estudos sobre o fenômeno climático e sobre as eleições para o roteiro. O fotógrafo Cris Von Amels usou como base para as ilustrações, fotos que ele tinha tirado no caminho, retratando a cada quadro uma cena real e presenciada pelo grupo. A editora de arte Marina Chevrand encarou outro desafio: fazer o design definitivo da história, mantendo o fluxo da narrativa e valorizando as imagens.
O formato de reportagem em HQ permite muitas soluções, e também muitos desafios. Permite, inclusive, um efeito de dramaticidade e de proximidade raramente encontrado em reportagens da mídia tradicional. No final, o interessante é que os quadrinhos podem tartar de temas muito relevantes para um público mais amplo. E o projeto não para por aí; já estamos trabalhando em outras “reportagens” em quadrinhos, afim de explorar as potencialidades desse casamento entre jornalismo e novelas gráficas – algo ainda bastante novo no Brasil.
2) Nunca vai ser o mesmo que presencial, mas eu conversei online com 3 pessoas da entusiasmada turma: Natália, Alexandre e Marina.
Natália nos contou que já era sua 4a ida ao país, para acompanhar a (re)eleição de Evo Morales e - segundo ela - os avanços sociais do país vizinho.
Mas a experiência de ver uma montanha que era um local de esqui em 1996 sem nenhuma neve deu um click nela: como mostrar, com personalidade algo que não sumisse entre as hard news...?
A ideía de fazer uma HQ que contagiou o fotógrafo e desenhsta Chris Von Ameln e, no final. Marina fez a 'produção'
Para quem quiser se entusiasmar, vale lembrar o que Alexandre nos revelou: a negocciaçã não foi fácil. Aliás, o processo inteiro em si é lento.
Mas é preciso desovar as ideias da cabeça, como lembrou Marina. O interessante (ou re-levante) é que foram os jornalistas de mais longa rajetória (e não os menos experientes. Imagino que isso tenha a ver com o raro viés que Natalia colocou: além do interesse: há de se ter presencialidade, empatia, e atenção...
Assim, o Brasil não tem só ume -group (aqui), tem também, uma porta aberta. Vamos que vamos! Foram só as 3 primeras de muitas páginas
Marko Ajdaric
A Caros Amigos, que divide com a Piauí o posto de ser das melhores revistas do Brasil, acolheu uma proposta de jovens criativos e começou a publicar uma série em quadrinhos sobre a Bolívia em preto e branco (originalmente, a obra foi concebida em cores). Pra que você corra pra banca, primeiro, sugerimos a leitura do comunicado de imprensa, claro e objetivo. Na sequência, vamos ao lado sub-jetivo: o saldo do e-papo que mantive com 3 dos criadores. Sigam-me os bons!
1) O salar está café
A reportagem em quadrinhos “O salar está café” foi uma iniciativa dos jornalistas Natalia Viana e Alexandre Casatti após uma longa viagem pela Bolívia, em que cobriram as eleições presidenciais de dezembro de 2009. Além de escrever para sites e revistas (Opera Mundi, retratos do Brasil, Revista Forum) a dupla, acompanhada pelo fotógrafo Chris Von Ameln, elaborou um guia turístico sobre o país andino para a editora Abril.
Mesmo assim, faltava algo; durante o trajeto, algumas situações e cenas revelavam outros grandes problemas da Bolívia hoje em dia: uma conversa com um antigo morador do Salar de uyuni, uma frase de uma turista estrangeira, uma senhora vendendo frutas nas ruas de La Paz. E principalmente, o fato do Salar estar marrom, coisa que muitos moradores do país nunca tinham visto – efeito da estiagem causada pelo aquecimento global.
Mas seriam essas cenas e testemunhos material jornalístico? Acreditamos que sim, mas não no formato tradicional. Por isso decidimos aliar a intimidade e a liberdade dos quadrinhos com a informação e a apuração jornalística. Usamos trechos de entrevistas, estudos sobre o fenômeno climático e sobre as eleições para o roteiro. O fotógrafo Cris Von Amels usou como base para as ilustrações, fotos que ele tinha tirado no caminho, retratando a cada quadro uma cena real e presenciada pelo grupo. A editora de arte Marina Chevrand encarou outro desafio: fazer o design definitivo da história, mantendo o fluxo da narrativa e valorizando as imagens.
O formato de reportagem em HQ permite muitas soluções, e também muitos desafios. Permite, inclusive, um efeito de dramaticidade e de proximidade raramente encontrado em reportagens da mídia tradicional. No final, o interessante é que os quadrinhos podem tartar de temas muito relevantes para um público mais amplo. E o projeto não para por aí; já estamos trabalhando em outras “reportagens” em quadrinhos, afim de explorar as potencialidades desse casamento entre jornalismo e novelas gráficas – algo ainda bastante novo no Brasil.
2) Nunca vai ser o mesmo que presencial, mas eu conversei online com 3 pessoas da entusiasmada turma: Natália, Alexandre e Marina.
Natália nos contou que já era sua 4a ida ao país, para acompanhar a (re)eleição de Evo Morales e - segundo ela - os avanços sociais do país vizinho.
Mas a experiência de ver uma montanha que era um local de esqui em 1996 sem nenhuma neve deu um click nela: como mostrar, com personalidade algo que não sumisse entre as hard news...?
A ideía de fazer uma HQ que contagiou o fotógrafo e desenhsta Chris Von Ameln e, no final. Marina fez a 'produção'
Para quem quiser se entusiasmar, vale lembrar o que Alexandre nos revelou: a negocciaçã não foi fácil. Aliás, o processo inteiro em si é lento.
Mas é preciso desovar as ideias da cabeça, como lembrou Marina. O interessante (ou re-levante) é que foram os jornalistas de mais longa rajetória (e não os menos experientes. Imagino que isso tenha a ver com o raro viés que Natalia colocou: além do interesse: há de se ter presencialidade, empatia, e atenção...
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