sábado, 12 de junho de 2010
O substituto de Angelo Agostini
Como podemo ver no cartaz ao lado, o interesse pelo pai da BD em Portugal continua. Como finalmente escolhemos uma página dele, de 1903, para a mostra Gestal dos Quadrinhos, republicamos abaixo texto de Marko Ajdaric, publicado no Universo HQ em 26/01/2005
No dia 23, Portugal celebrou os 100 anos do falecimento de Rafael Bordalo Pinheiro, o mais famoso caricaturista português, criador do Zé Povinho, personagem que influenciou vivamente outros caricaturistas de língua portuguesa, inclusive no Brasil, onde ele esteve em 1875, quando passou a substituir ninguém menos do que Angelo Agostini nas ilustrações de O Mosquito.
Nascido em 1846, Bordalo Pinheiro afirmou sua arte contra dois grandes obstáculos: até a sua época, o ofício de caricaturista era mal visto, e sua independência de pensamento, em favor dos mais pobres, lhe fechou várias portas nos círculos literários. Seu maior trunfo foi a inexistência de fotografias em jornais impressos, naquela época, o que acabava por valorizar a arte do traço.
E Bordalo ia além do registro através do desenho, ao adicionar inúmeros comentários aos jornais em que participava, e até fundou alguns periódicos.
Na semana de seu centenário, o Público, de Lisboa, abriu com estas palavras a sua homenagem (que você pode ler aqui, reproduzida pela Bedeteca de Lisboa).
"Foi um gênio na cerâmica e no desenho, criticando lealmente e sem rancor todos os poderes da época em que viveu. Ainda hoje, as criações daquele que é considerado o fundador da BD portuguesa espantam. Apesar disso, o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, está fechado desde 1999".
O próprio Público teve a oportunidade de noticiar, nesta segunda, dia 24, a mais importante homenagem ao centenário: O Museu Rafael Bordalo Pinheiro será reaberto em setembro.
Neste particular, os brasileiros, têm uma vantagem: os quadrinhos "nasceram" em Portugal três anos depois que aqui. Os Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador de Rasilb pela Europa, considerados a primeira série da Nona Arte de Portugal, saíram em 1872, portanto, três anos depois do piemontês radicado no Brasil, Angelo Agostini, lançar as Aventuras do Nhô Quim, em 30 de janeiro de 1869 (data em que se comemora o Dia dos Quadrinhos, no Brasil).
O Museu Nacional da Imprensa, no Porto, abriu a exposição Bordallo Pinheiro: um Gênio sem Fronteiras, no dia 21. A exposição está aberta à visitação até maio, das 15 às 20h, e apresenta originais do artista e dezenas de periódicos dos quais ele foi fundador ou colaborador: António Maria, A Paródia, Pontos nos ii, Lanterna Mágica (sua maior criação pessoal como editor), Ocidente e Brasil-Portugal.
No dia 3 de janeiro, a cidade de Caldas da Rainha, onde Bordalo viveu e trabalhou, durante alguns anos, foi cenário do lançamento de um calendário especial em sua homenagem. A obra, além de caricaturas com expressivos títulos de seus cartuns, como Política: a Grande Porca, que é a capa do calendário, contem litografias do seu filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e de Celso Hermínio, colaboradores da A Paródia, lançado no ano de 1900.
No Carnaval da cidade, um dos mais concorridos de Portugal, as figuras do Zé Povinho e de Maria Paciência vão fazer a alegria das troças, pois a folia de momo de Caldas da Rainha será mais uma homenagem da cidade ao criador.
A Fundação Calouste Gulbenkian, uma das instituições que maior respeito e carinho tem do povo português, sediada em Lisboa, já começou, desde novembro de 2004, uma série de atividades pela data - inclusive um colóquio internacional. Confira no portal de artes Tinta Fresca a programação integral, que culmina com o Prémio Ibérico de Caricatura e Cartoon Rafael Bordalo Pinheiro.
A Câmara de Lisboa vai comemorar o centenário a partir de 21 de março, com a abertura de uma exposição especial pela data. Ainda em Lisboa, até o dia 31 de janeiro, uma exposição está aberta na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro - com curadoria de Luís Alegre, trazendo uma nova leitura da obra do artista pela manipulação de originais, mesclados com elementos criados pela pop art, dos anos 60. O nome da mostra é, exatamente, Bordalo Pop.
Uma homenagem da classe dos desenhistas se dará no VII PortoCartoon-World Festival (um dos mais importantes salões de humor do mundo). Com o tema Humor e Sociedade, a edição do festival deste ano trará uma homenagem dos cartunistas a nível mundial ao legado de Rafael Bordalo Pinheiro.
Os Correios de Portugal (CTT) já anunciaram que darão sua contribuição para que o traço de Bordalo passe por muitas mãos, este ano. Depois da publicação de um selo com uma reprodução de um quadro de 1885 de Columbano Bordalo Pinheiro, irmão do caricaturista (em 2004), os CTT vão por em circulação vários selos dedicados aos caricaturistas portugueses, entre eles, um em homenagem ao grande criador.
Sobre o Bordalo ourives da cerâmica, fica o registro de que na Exposição Internacional de Paris de 1889 (aquela em que foi inaugurada a Torre Eiffel), ele foi, simplesmente, o responsável pelo pavilhão de Portugal, que acabou sendo recheado de obras em cerâmica de sua criação.
Já que o assunto é humor, não perguntem por que os portugueses não se põem de acordo sobre a grafia do nome de seu maior ilustrador. Ora é Bordalo, ora Bordallo. Desde que não deixem de bordá-lo em suas mentes, não tem problema...
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