terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Exemplo de texto de jornalismo investigativo de Marko Ajdarić (Há 2 ainda inéditos do mesmo calibre, não publicados online). Essa matéria foi publicada no boletim diário do Sindicato dos Bancários da Bahia (edição 2840 de ‘O Bancário’ de 31 de julho de 2002), em papel.

Feriado bancário no Uruguai

O que a Petrobrás tem a ver com isso

Temos que tirar o chapéu para a ordem unida dos jornalões brasileiros em seu apoio ao governo. Os donos dos grandes jornais brasileiros têm se demonstrado de uma disciplina ímpar no seu papel de ocluir a realidade.

Assim que cumpriram seu papel de repetir como papagaios que houve uma fusão e não uma venda na CSN, os jornalões foram novamente convocados a espetacularizar a compra da Perez Companc pela Petrobrás, uma ótima forma de desviar a atenção sobre o caso CSN/COMUS.

Os mesmos soldadinhos que saudaram quando foi criado o banco sem bancários, o Patagon, - e que esconderam a quebra do grupo na Argentina foram todos às ruas brindar a compra da petrolífera argentina pela mão do senhor Francisco Gros como prova da nossa pujança regional.

O que seria razoável, não fossem as circunstâncias da compra e – em particular – da parte que vendeu.

Para fazer uma comparação, bancário/a: você compraria uma firma do Nicolau dos Santos Silva?

Pois foi muito pior o que Gros fez.

Além do ‘exagero no valor desembolsado para arrematar a então concorrente argentina’, como aponta a Época, que acrescenta: ‘a Perez Companc é a empresa mais endividada do setor de petróleo em todo o mundo. Seu passivo representa 73% do patrimônio. Na Petrobrás, a taxa, que era de 33%, irá para 42% depois da aquisição’. A família Peirano, de quem a Petrobrás comprou 58% das ações da Pecomp, é detentora de uma unanimidade ímpar: é tida – diretamente ou por meio de eufemismos – de ladra por grupos de pessoas tão diferentes como a burguesia uruguaia, o reacionário jornal paraguaio ABC Color e os correntistas de bancos da Argentina [de todos os tamanhos, acrescento para quem não é bancário, agora, em 2012].

Na verdade, o malabarismo da família Metr...digo Peirano envolve a quebra e a venda a preço vil ao capital holandês da rede de supermercados Disco, na Argentina (episódio no qual a grande imprensa holandesa [em especial o conservador De Telegraaf, cito de memória] demonstrou postura mais correta, denunciando as ações da família. Gritos de ¡Ladrones, devuelvan la plata! ecoaram em frente à residência do banqueiro Jorge Peirano Faccio, agora, dia 18 de julho de 2002. No dia 5 deste mês, pela quebra de um banco no Paraguai, os Peirano tiveram um pedido internacional de captura decretado. Entre outros episódios...

Foi dessa gente que a Petrobrás comprou a maioria das ações da Perez Companc. Qualquer criança de colégio não faria a compra, se fosse com dinheiro próprio.

Mas, ‘estranhamente’, nenhum dos jornalões brasileiros (pesquisa inclui as agências Globo, JB, Folha, e Estado) ‘se lembrou’ de citar a referida família. ‘Estranhamente para dizer o mínimo’.

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Para leitura dos bancários, foram disponibilizados vários documentos, à época, no site de Marko Ajdarić, em especial sobre ao aludido feriado bancário no Uruguai.

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